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O novo livro de Oliver Sacks, “Alucinações Musicais” (Musicophilia), lida com os mistérios da música e o cérebro. A “Spiegel” falou com ele a respeito do paciente judeu que tinha alucinações com bandas marciais nazistas, a orquestra de percussão de Tourette e sobre o motivo dele querer matar pessoas

Samiha Shafy e Jörg Blech

Spiegel - Dr. Sacks, feche seus olhos e pense a respeito de música. O que o senhor ouve?
Oliver Sacks - Uma mazurca de Chopin me vem. É uma em si maior e sinto uma comichão em minhas mãos para tocá-la. Eu até posso visualizar um teclado diante de mim…

Spiegel - A melodia, a mazurca, o teclado. Tudo isto parece aparecer repentinamente. Como isto acontece?
Sacks - Nós todos provavelmente não temos capacidades e paixões latentes de uma ou outra espécie que nos atingem inesperadamente?

Spiegel - O senhor provavelmente está ciente de sua própria paixão pela música. Mas em seu livro mais recente, “Alucinações Musicais”, o senhor alega que a música pode mexer até mesmo com a pessoa mais não musical.
Sacks - Sim, foi como aconteceu com Tony, um paciente meu. Tony era um cirurgião ocupado que não tinha nenhum interesse em particular por música e nenhum talento musical especial. Mas então, no final de 1994, ele foi transformado após ser atingido por um raio e esteve clinicamente morto por um breve período. Ele teve uma parada cardíaca por provavelmente 30 segundos, e seu cérebro não recebeu oxigênio suficiente. E, desde então, ele é um homem mudado, pois agora tem paixão por música, assim como descobriu um talento musical considerável. Ele também é, usando suas próprias palavras, “obcecado” -ou “possesso”- pela música. Isto vem com um certo sentimento místico ou religioso de que é um presente dos céus.

Spiegel - O senhor tem uma explicação racional para o que aconteceu ao cérebro dele?
Sacks - Eu estou certo que a falta de oxigênio causou algum tipo de reorganização no cérebro do Tony. Células nervosas supostamente foram danificadas ou ocorreu algum tipo de novo crescimento, de forma que certas partes do cérebro que antes estavam inativas se tornaram ativas -de forma constante. Ele sente que escuta música de piano o tempo todo, composições próprias. Isto não é muito diferente do que acontece com pessoas com demência frontotemporal, mas neste caso há um mecanismo muito claro no qual danos nesta área removem a inibição em outras áreas. Mas no caso de Tony, não está claro.

Spiegel - Tony está possesso ou se tornou um bom músico?
Sacks - Ele não é nenhum (Vladimir) Horowitz (o aclamado pianista russo-americano), mas consegue tocar scherzos de Chopin bem o suficiente para encher uma sala de concerto e atrair um público, e sempre tocará algumas de suas próprias composições. Sua mais recente composição se chama “Lightning Sonata” (sonata do raio), uma tentativa de abordar em termos musicais alguns dos estranhos eventos de 1993.

Spiegel - Pessoas assim podem suprimir seus impulsos musicais por anos e então liberá-los por causa de demência ou mesmo um raio?
Sacks - Eu acho que o cérebro é um sistema dinâmico no qual algumas partes controlam ou suprimem outras partes. E, talvez, quando alguém sofre algum dano em uma área controladora ou supressora, então pode ocorrer o surgimento de algo, seja uma convulsão, uma tendência criminosa -ou mesmo uma repentina paixão musical.

Spiegel - E como isto se expressa? As pessoas afetadas cantam o dia todo?
Sacks - As capacidades que tendem a surgir são de uma qualidade altamente concreta e sensorial. Tipicamente há um fluxo de padrões, talvez padrões musicais, talvez padrões visuais, talvez padrões numéricos. As pessoas afetadas por isto provavelmente apreciarão, pois parece ser um presente, algo que foi acrescentado a suas vidas, apesar de poder ser algo invasivo, como alucinações às vezes podem ser invasivas.

Spiegel - O que o modo humano de lidar com a música lhe diz sobre a mente humana e seu funcionamento?
Sacks - O que é aparente é que não há uma única parte do cérebro que reconhece ou responde emocionalmente à música. Em vez disso, há muitas partes diferentes que respondem a diferentes aspectos da música: ao tom, freqüência, timbre, intervalos tonais, consonância, dissonância, ritmo, melodia, harmonia. Assim, se você realiza estudos do cérebro, você descobre que as mesmas áreas que estão ativas ao escutar música são aquelas que estão ativas quando você imagina música, e isto também inclui as áreas motoras. Isto explica por que antes, apesar de estar apenas pensando na mazurca, eu pensava em termos de movimento.

Spiegel - Mas como algumas pessoas podem ser prodígios, enquanto outras fazem aquele esforço a mais, praticam todo dia, mas mesmo assim sempre permanecem medianas?
Sacks - Está claro que existe uma grande quantidade de variação, muito mais do que na linguagem. Com a linguagem, todo ser humano -mesmo pessoas com retardo severo- adquire linguagem, e linguagem gramaticalmente competente, caso seja exposto a ela. Mas nem todos conseguem dominar um instrumento musical. Eu não sei ao certo como explicar. Mas apesar de haver variação, eu acho que não existe cultura na qual a música não seja importante ou central. É por isso que eu penso em nós como sendo uma espécie musical.

Spiegel - Nós realmente somos a única espécie musical? Diz a lenda, por exemplo, que vacas dão mais leite quando escutam Mozart…
Sacks - Primeiro, eu não sou veterinário, não tenho cão, apesar de que gostaria. Eu tendo a me ater às minhas próprias observações, que são sobre pacientes. Agora, se um homem com um cão sentar tranqüilamente, curtindo música e sorrindo, seu cão poderá se sentar ao seu lado e sorrir também. Mas quem pode dizer se o cão está tendo uma experiência semelhante ou se o cão está apenas feliz por seu mestre estar feliz. Minha impressão é de que um senso de ritmo, que não tem semelhante na linguagem, é único e que sua correlação com o movimento é exclusiva dos seres humanos. Por que mais crianças começariam a dançar quando têm dois ou três anos? Chimpanzés não dançam.

Spiegel - Segundo Steven Pinker, um psicólogo da Universidade de Harvard, a música é inútil no sentido evolutivo e não tem valor adaptativo.
Sacks - O próprio Steven Pinker é bastante musical e acho que ficaria muito infeliz caso a música desaparecesse repentinamente de sua vida. Mas, para lidar com esta questão, meu sentimento é de que certos aspectos da música são estruturais, inerentes, biológicos, universais e apareceram no curso da evolução. Por este motivo, mesmo bebês de poucas semanas estremecem quando certos intervalos musicais, como uma segunda maior, são tocados. Além dos tipos de tons e tempos universais, eu suspeito que a música é uma construção cultural que faz uso de qualquer coisa que esteja disponível no cérebro.

Spiegel - O lingüista Noam Chomsky propôs um mecanismo semelhante para a aquisição da linguagem. Segundo ele, os bebês nascem com um sentido de gramática que permite que peguem rapidamente a linguagem respectiva de seu ambiente.
Sacks - Eu suspeito que a música tenha qualidades tanto da fala quanto da escrita -em parte inerentes, em parte construídas individualmente- mas isto continua por toda a vida de alguém. Então, se uma pessoa está acostumada à música ocidental européia, é possível que não entenda a música indiana. Mas se continuar escutando, a pessoa começará a entendê-la. A pessoa começa a ver os padrões.

Spiegel - Se você olhar para o cérebro de um músico e compará-lo ao cérebro de uma pessoa não muito musical, o que se vê?
Sacks - As diferenças podem ser muito, muito notáveis. O neurologista Gottfried Schlaug, de Boston, faz estas comparações há anos usando imagens por ressonância magnética do cérebro e comparando cuidadosamente o tamanho ou espessura da matéria cinzenta. Ele encontrou muitas coisas diferentes. O corpo caloso entre os hemisférios, por exemplo, tende a ser maior nos músicos. As áreas auditivas freqüentemente também são maiores, assim como as áreas motoras, e pode haver um crescimento da matéria cinzenta no cerebelo -a ponto de ser visível a olho nu.

Spiegel - Diferenças como esta podem revelar se alguém é um músico nato ou treinado?
Sacks - Isto nem sempre é fácil de dizer porque músicos talentosos costumam ser altamente treinados e treinam desde cedo. Mas é possível demonstrar que algumas dessas mudanças acontecem com o treinamento. Assim, o poder da música e a plasticidade do cérebro caminham juntos de forma notável, especialmente nos jovens.

Spiegel - Em casos raros, pessoas podem perder repentinamente seu senso musical. O senhor encontrou algum caso desses?
Sacks - Sim. Como há partes particulares do cérebro associadas a aspectos particulares da música, elas podem ser danificadas em um acidente, derrame ou tumor. Eu tenho alguns pacientes que vivenciaram isso. O senso musical pode ser perdido, mas também pode ser ampliado.

Spiegel - Como aconteceu com Tony, ao ser atingido pelo raio?
Sacks - Sim. Eu já tive uma paciente que tinha um tumor no lóbulo temporal direito, e quando ele foi removido, ela se viu muito mais musical.

Spiegel - Ela ficou feliz a respeito?
Sacks - Ela pareceu apreciar bastante. De qualquer forma, foi muito mais agradável do que algo que aconteceu comigo há muitos anos, quando perdi meu senso musical por um breve período, após uma crise de enxaqueca.

Spiegel - Então não é preciso ter um tumor ou um derrame para que isto aconteça?
Sacks - Nem um pouco. Geralmente com enxaquecas uma pessoa pode sofrer perturbações visuais de algum tipo ou outro, mas eu tive uma perturbação musical. Eu escutava uma peça no carro, uma balada de Chopin, e ela pareceu perder todo seu tom, e finalmente se tornou uma batida um tanto metálica, apesar do ritmo ter sido preservado. Eu fiquei confuso com aquilo, mas voltou depois de uns 10 minutos. Eu telefonei para a emissora de rádio e disse: “O que aconteceu? Aquilo foi uma piada? Foi alguma experiência?” Eles disseram: “É melhor você checar o rádio do seu carro”. Mas aconteceu de novo quando estava em casa e não escutando rádio.

Spiegel - O senhor já teve alguma alucinação musical?
Sacks - Não. Mas para as pessoas que as têm, pode ser algo muito assustador. Você olha ao redor. Fica confuso. Pergunta-se se outras pessoas ouviram aquilo. Começa a olhar ao redor: o rádio está ligado? Há uma banda lá fora? Há uma sensação enorme de ser uma fonte externa. Também pode ser um som de volume alto, fisicamente muito alto. Você pode até ficar ensurdecido por uma alucinação.

Spiegel - Estas alucinações podem estar ligadas à surdez ou perda de audição?
Sacks - Em alguns casos, sim. Parece que o cérebro precisa sempre estar ativo, e as partes auditivas do cérebro não estão recebendo informação suficiente, então elas podem começar a criar sons alucinatórios por conta própria. Apesar de ser curioso que geralmente não criam barulhos ou vozes; elas criam música.

Spiegel - Que tipo de música?
Sacks - Pode ser qualquer coisa: às vezes hinos, às vezes canções populares, freqüentemente melodias que faziam parte da cultura na infância de alguém. Ocasionalmente pode ser assustador, como no caso de um paciente que descrevo, que ouvia marchas nazistas que o assustavam por ter sido um menino judeu que cresceu em Hamburgo nos anos 30. Felizmente, aquilo depois foi substituído por Tchaikovsky.

Spiegel - Como o senhor trata pacientes com alucinações musicais?
Sacks - Eu posso sugerir alguns exames adicionais, mas basicamente acho que meu papel é de ser tranqüilizador, de dizer: você não está maluco e não há semelhança entre isto e ouvir vozes, como vozes psicóticas esquizofrênicas. Às vezes pequenas doses de tranqüilizantes ou de anticonvulsivos podem ser úteis. Elas geralmente refreiam um pouco a excitabilidade.

Spiegel - O senhor cita o escritor romântico alemão Novalis, que escreveu que toda doença é um problema musical e toda cura é uma solução musical. A música pode ser uma cura?
Sacks - Absolutamente, e de muitas formas diferentes. Foi isto que atraiu minha atenção como médico há cerca de 40 anos, com os pacientes que descrevo no meu livro “Tempo de Despertar”. Havia pessoas que sofriam de casos severos de mal de Parkinson, que freqüentemente ficavam completamente imóveis. Elas não conseguiam iniciar um movimento por conta própria, mas a música as libertava. Elas podiam dançar, podiam cantar, podiam fazer coisas completamente normais. O ritmo da música é muito importante para pessoas com mal de Parkinson, e isto pode levar ao que estávamos dizendo antes sobre esta tendência humana de se mover com ritmo -mesmo se você tiver Parkinson. Mas também é muito importante para outros tipos de pacientes, como aqueles com síndrome de Tourette. A música os ajuda a controlar seus tiques e impulsos. Há até mesmo uma orquestra inteira de percussão composta exclusivamente por pacientes de Tourette.

Spiegel - A música até mesmo parece ter um efeito positivo sobre pessoas que sofrem de Alzheimer.
Sacks - Sim. Mesmo quando outras capacidades foram perdidas e as pessoas nem mesmo sejam capazes de entender a linguagem, elas quase sempre reconhecerão ou responderão a músicas familiares. E não apenas isto. As canções podem levá-las de volta e lhes propiciar a lembrança de cenas e emoções às quais, sem elas, não teriam acesso.

Spiegel - Isto significa que a música é a única conexão delas com o mundo externo?
Sacks - Na verdade eu diria que é a única conexão com seu mundo interno.

Spiegel - O senhor diz que as pessoas não deveriam ler enquanto ouvem música, pois a música desafia o cérebro o tempo todo. O que o senhor pensa quando vê pessoas correndo por toda parte com iPods?
Sacks - Eu quero matá-las.

Spiegel - Por quê?
Sacks -Há não muito tempo, eu estava na minha bicicleta, quando vi uma mulher com fones de ouvido, que obviamente pensava em cruzar o caminho da bicicleta. Eu buzinei; ela não ouviu. Eu tinha um apito e apitei; ela não ouviu. Então ela pulou na minha frente e eu tive que frear com tudo. Eu bati com tudo no guidão e me machuquei. Então, apesar de achar maravilhoso ter todo o mundo da música disponível em algo tão pequeno e poder transmiti-lo com tamanha fidelidade quase que diretamente ao cérebro, eu acho que a tecnologia também é um risco.

Spiegel - O senhor não está exagerando um pouco?
Sacks - Você não acha que uma pessoa precisa ser cuidadosa ao caminhar pelo mundo real funcionalmente surda? Meu bairro, Greenwich Village, costumava ser mais agradável. Havia mais vida na rua. As pessoas costumavam conversar umas com as outras. E agora é como se todas estivessem alucinando. Todas falam com presenças invisíveis em celulares, escutando música invisível.

Spiegel - Mas a música invisível também não pode nos deixar felizes?
Sacks - A música originalmente tinha uma função social. Você estava em uma igreja, em uma sala de concerto, em uma banda marcial; dançando. Eu me preocupo com o fato da música se distanciar demais de suas raízes e se tornar apenas uma experiência proporcionadora de prazer, como uma droga.

Spiegel - Dr. Sacks, obrigado pela entrevista.

“Der Spiegel


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Coral usa música contra o esquecimento


Professor da UnB coordena único coral do mundo destinado
ao tratamento de pessoas com mal de Alzheimer

Um levantamento feito pela Organização Mundial de Saúde (OMS), divulgado em 2007, apontava a existência de 24,3 milhões de pessoas portadoras da doença de Alzheimer em todo o mundo, número que tende a aumentar com o envelhecimento da população. Por isso, desde que a doença foi descrita, há pouco mais de 100 anos, especialistas no mundo inteiro se debruçam sobre estudos que proporcionem longevidade e qualidade de vida para esse público.

Uma iniciativa pioneira da Universidade de Brasília (UnB) tem mostrado resultados positivos. Desde 2005, funciona no Hospital Universitário de Brasília (HUB) um coral destinado exclusivamente a portadores da enfermidade e parentes ou amigos que convivem diretamente com eles. Uma vez por semana, o grupo de 25 pessoas se reúne para cantar marchinhas de carnaval, sambas e músicas folclóricas.

“Os familiares dizem que este é um momento de muita alegria. Eles contam que desde que passaram a freqüentar o coral o paciente parece ter estabilizado, deixou de piorar. Para o Alzheimer isso é uma grande conquista”, diz o geriatra e professor da UnB Renato Maia, idealizador da proposta e presidente da Associação Mundial de Gerontologia e Geriatria. Os depoimentos vão ao encontro dos objetivos de auxiliar na reabilitação por meio de atividades que gerem bem-estar e sentimentos de alegria.

ESTRATÉGIA – A escolha pela formação de um grupo musical não foi à toa. Maia conta que existem corais para portadores de Parkinson, síndrome que limita os movimentos, mas explica que o canto se torna ainda mais desafiador para o paciente com Alzheimer, uma vez que essa doença degenerativa e incurável afeta diretamente a memória.

Nesse sentido, cada canção entoada pelo grupo é escolhida meticulosamente. O repertório privilegia canções populares de festas juninas e natalinas, ou seja, músicas ligadas à infância ou juventude, que geralmente remetem a boas lembranças. “Quando o integrante canta uma marchinha, se transporta para aquele momento de carnaval, para a namorada que conheceu. Essa magia fortalece o sistema imunológico do cérebro”, diz o maestro Sérgio Kolodziey, regente do coral.

Além dos pacientes, o coral é também aberto intencionalmente aos cônjuges, irmãos, filhos ou sobrinhos que acompanham a trajetória do doente. À primeira vista, a mistura entre os dois públicos poderia parecer desvio de foco no grupo, mas Maia e Kolodziey explicam que essa união é fundamental. “O parente é uma pessoa-chave para dar apoio e ajudar a reduzir a evolução da doença. Esse atendimento é importante porque se o familiar não souber canalizar o seu sofrimento, vamos ter não um, mas dois doentes”, diz o maestro.

ALEGRIA – Para o professor, os benefícios registrados pela atividade mostram que o imaginário em torno do Alzheimer não deve inviabilizar a busca de tratamentos complementares. “Existem possibilidades de atuação tendo como objetivo a qualidade de vida do doente. É preciso cuidar, se solidarizar e buscar alternativas que possam aliviar o peso para as famílias”, diz.

Maia e Kolodziey não escondem a satisfação pessoal de estar no projeto. “Eu me sinto reavivado, feliz da vida. Não tem coisa melhor que ter a oportunidade de prolongar a vida de uma pessoa”, afirma o maestro. “A minha satisfação vem do reconhecimento dos familiares em relação ao que acontece aqui, que se mostram muito gratos ao hospital e à UnB”, diz Maia.

Os pacientes do coral de Alzheimer não alegram apenas o corredor do 1º andar do ambulatório 2 do HUB nas manhãs das terças-feiras. Eles se apresentaram pela primeira vez em 2006, num evento que lembrou os 100 anos da doença, descrita pelo médico alemão Alois Alzheimer. Também marcaram presença no Jardim Zoológico de Brasília e no Pátio Brasil Shopping.


Em geral, a doença de Alzheimer acomete pessoas a partir dos 60 anos de idade. Ainda não foram descobertas suas causas, nem tratamentos de cura. O máximo que se consegue é a estabilização do processo de degeneração das células na parte do cérebro responsável pela memória, raciocínio e linguagem. Os primeiros sintomas são perda da memória recente, como nomes, números de telefone, compromissos e fatos importantes, almoçar, fechar a porta do armário ou trancar a porta de casa. Quanto mais cedo a doença for identificada, maiores as chances de paralisar o processo.

A arte tem sido utilizada de diferentes formas ao redor do mundo em tratamentos contra a doença. Nos EUA, pacientes foram submetidos a sessões de audição de música, que ajudou a regular o humor e a diminuir a agressividade, realizado no Miami Veterans Administration Medical Center. Também nos EUA, o Museu de Arte Moderna de Nova York (MoMA) e o Museu de Belas Artes de Boston, criaram programas de visitação específicos para esses pacientes, visando estimular a memória emocional. Em 2007 foi lançado o livro Alucinações musicais, em que o médico Oliver Sacks defende os benefícios da música.

Fonte: http://www.secom.unb.br/bcopauta/saude67.htm


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Os benefícios da técnica em corais


Considerado a expressão mais antiga do mundo, o canto em coro nasceu em ambientes religiosos, mas hoje se expande por clubes e associações

Erick Tedesco

O canto coral é considerado a expressão musical coletiva mais antiga do mundo, revelados através de achados históricos no Egito e na Mesopotâmia (na região do Oriente Médio), então ligada a cultos religiosos e às danças sagradas. Já na Grécia Antiga, o coral tem caráter além da religião e aparecia em festas populares e até mesmo em orgias. Enquanto isso, em Roma, a música de corais estava nos teatros satíricos e populares. O coro era de grande importância na tragédia latina, mas também foi neste período que se vincularam fortemente à Igreja Católica e Protestante.

Reis e pessoas abastadas, além do Clero, foram responsáveis pela manutenção do canto coral ao longo da história da civilização em seus diferentes âmbitos, seja atrelado à religião ou a simples festividades do mundo laico. Na contemporaneidade, os corais, mesmo ainda relacionados às igrejas, também são atividades musicais oferecidas em clubes, órgãos ligados ao Estado e mesmo em comunidades de bairros. A regente e pianista piracicabana Joanice Vicente Casemiro é um exemplo de envolvimento com corais de distintos âmbitos, religioso ou não.

Ela é regente dos corais Cristóvão Colombo e da Universidade Metodista de Piracicaba (Unimep), campus Santa Bárbara D'Oeste, além de atuar como pianista no Coral Reverendo James William Kogger, pertencente à Catedral Metodista de Piracicaba sob a regência da maestrina Sônia Carmela Falci Dechen. Para Joanice, não existe diferença alguma em trabalhar em grupos que apresentam repertórios distintos. “E o prazer é o mesmo”, diz.

O envolvimento dela com a música erudita começou há décadas atrás. As suas recordações remetem aos seis anos de idade. “Meus avós, Américo (já falecido) e Aparecida Vicente, são responsáveis pela minha aproximação com a música. Antes de dormir, minha avó colocava músicas de corais. Naquela época eram fitas k-7”, diz ao relembrar a veia musical da família. A canção que mais marcou sua infância é “Aleluia de Handel”, obra de George Friedrich Handel. “Ficava imaginando como se produzia algo de tamanha grandiosidade”, revela a regente.

Os estudos em piano de Joanice aconteceram antes de seu contato com o canto de coral, com a professora Aracy Wey Moreira. Aos 12, passou a estudar na Escola de Música de Piracicaba “Maestro Ernst Mahle” sob orientação da professora Cecília Bellato. “Especializar em coral foi uma questão de paixão pelo ofício”, revela. A primeira experiência no ramo deu-se em 1997, como pianista do coral da Igreja Metodista, onde está até hoje. Entretanto, estar em um coral religioso, segundo ela, independe da fé da pessoa interessada em cantar em coro. “No Coral Reverendo James William Kogger há integrantes metodistas e outros que não são”, comenta.

No Coral da Unimep, de Santa Bárbara d´Oeste, Joanice atua como regente desde o início de 2007. Nas duas instituições metodistas ela trabalha com repertório sacro-religioso, enquanto que no Coral Cristóvão Colombo é uma mistura de erudito e popular. “Os arranjos das músicas eruditas são mais elaborados, porém a busca pela qualidade é a mesma”, fala a regente e pianista.

Os corais em que Joanice trabalha já realizaram algumas apresentações ao longo de 2008. O do Cristóvão, por exemplo, esteve presente em dois grandes eventos: no lançamento do Selo de 70 anos do clube e também no 2º Enacop (Encontro Nacional de Corais de Piracicaba). Já com o da Unimep, cantaram recentemente na recepção dos calouros do segundo semestre e ainda se apresentarão na abertura da Semana Jurídica, no dia 1o de setembro. “Na Igreja Metodista, o Coral se apresenta todos os domingos, além de preparar um repertório especial em datas comemorativas como Páscoa, Natal e no aniversário da Igreja, que acontece mês que vem”, fala.

“Faço música para eu mesma, a principal questão é agradar a si próprio com aquilo que se propõe a produzir”, disse Joanice sobre seus sentimentos com o canto de coro. Atualmente ela é estudante do curso de licenciatura de Música, da Unimep. “Minha idéia é me especializar em musicalização, que é educação musical”, explica. A regente se considera confortável nos ofícios que realiza e não sente pressão do público no momento das apresentações devido à confiança em seu trabalho.

Em relação ao interesse da população piracicabana quanto à musica erudita, Joanice afirma que tem aumentado, apesar de ser uma cultura que geralmente desperta já na fase adulta. “O número de jovens que querem participar de corais também aumentou, como é o caso do coral da Unimep”, fala. E, independente da faixa etária, a técnica vocal é trabalhada de acordo com a necessidade de cada um. “Entretanto, o treinamento do ouvido para a percepção e a busca pelo melhor resultado é sempre através do mesmo esforço, seja no momento da apresentação como nos ensaios”, fala. Como explica, os ensaios servem para aprender a fazer o aquecimento vocal e aprender sozinho a educar o ouvido e perceber se está desafinado.

E além da técnica, Joanice aponta a sociabilidade que mantém com todos os envolvidos com os três corais em que atua como um fator determinante para a permanência e paixão pelos trabalhos. “O laço de amizade entre as pessoas é especial, isso sem contar os benefícios terapêuticos que o canto de coro proporciona”, finaliza.

Fonte: http://www.tribunatp.com.br/modules/news/article.php?storyid=920


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