Paixão segundo são mateus - J. S. Bach

Johann Sebastian Bach Foi autor das paixões segundo São João, São Mateus e São Lucas. Lamentavelmente, a terceira obra foi perdida, mas decorridos 300 anos as duas primeiras Paixões de Bach fazem parte do repertório das grandes orquestras.

Félix Mendelssohn, um músico judeu, quem resgatou do esquecimento a Paixão segundo São Mateus, ausente dos palcos alemães por mais de oitenta anos. Trabalhando em uma cópia da partitura o jovem compositor mudou algumas cadências e registros, reescreveu alguns recitativos e apresentou o oratório de Bach num concerto realizado na Academia de Canto de Berlim, em 1829. A partir dessa data, a Paixão segundo São Mateus passou a ser considerada uma das obras primas da música universal. Mendelssohn jamais se manifestou a respeito de eventuais conceitos anti-semitas contidos na obra.

Recentemente, as Paixões de Bach provocaram indignação em alguns segmentos da sociedade, pois elas retratariam os judeus como agentes responsáveis pelo julgamento e morte de Jesus. Johann Sebastian Bach foi tachado de anti-semita.
A Paixão segundo São Mateus, de Bach, foi baseada nos capítulos 26 e 27 do evangelho de São Mateus e nos conta os momentos finais de Cristo, um homem renovador que desafia os burgueses de visão tacanha e os reacionários. Os judeus na Paixão de Bach são os cristãos, os próprios judeus e os pagãos. Os atos praticados são obras de uma coletividade: a prisão, o julgamento e a crucificação. A propósito, os judeus antagonizam os pagãos: o judeu Jesus, o judeu Judas e os sumos sacerdotes judeus opõe-se aos romanos pagãos. (48 variações sobre Bach – Franz Rueb).

O Instituto de Música Johann Sebastian Bach, localizado em Israel, estudou durante vários anos o pretenso anti-semitismo de Bach, acabando por não confirmá-lo. Um dos mais notáveis pesquisadores dessa instituição, Oskar Gottlieb Blarr, escreveu uma Paixão de Jesus, em homenagem a Bach. O oratório de Blarr utiliza textos do Velho e do Novo Testamentos bem como do Talmude, mas omite a cena do julgamento.

A Paixão segundo São Mateus, BWV 244, (em latim: Passio Domini nostri Jesu Christi secundum Evangelistam Matthaeum), conhecida na Alemanha pelo nome de Matthäuspassion) é um oratório de Johann Sebastian Bach, que representa o sofrimento e a morte de Cristo segundo o Evangelho de São Mateus, com libreto de Picander (Christian Friedrich Henrici). Com uma duração de mais de 2 horas e meia (em algumas interpretações, mais de 3 horas) é a obra mais extensa do compositor. Trata-se, sem dúvida alguma, de uma das obras mais importantes de Bach e uma das obras-primas da música ocidental. São esta e a Paixão segundo São João as únicas Paixões autênticas do compositor conservadas em sua totalidade. A Paixão segundo São Mateus consta de duas grandes partes constituídas de 68 números, em que se alternam coros(5), corais, recitativos, ariosos e árias.

História

A Paixão segundo São Mateus de Bach foi escrita, provavelmente, em 1727. Apenas duas das quatro (ou cinco) composições sobre a Paixão de Cristo, que Bach escreveu, subsistiram integralmente; a outra é a Paixão segundo São João. A Paixão Segundo são Mateus foi apresentada pela primeira vez na Sexta-feira da Paixão de 1727 ou na Sexta-feira da Paixão de 1729 na Thomaskirche (Igreja de São Tomás) em Leipzig, onde Bach era o Kantor. Ele a revisou em 1736, apresentando-a novamente em março desse mesmo ano, incluindo dessa vez dois órgãos na instrumentação.

A Paixão segundo São Mateus não foi ouvida fora de Leipzig até 1829, quando Felix Mendelssohn apresentou uma versão abreviada em Berlim, com grande aclamação. A redescoberta da Paixão segundo São Mateus através de Mendelssohn conduziu a música de Bach — principalmente as grandes obras — à atenção pública e acadêmica que persiste até os dias atuais.

Estrutura

Muitos compositores escreveram composições sobre a Paixão de Cristo no século XVII. Como outras Paixões em forma de oratório, a composição de Bach apresenta o texto bíblico de Mateus, capítulos 26 e 27, de um modo relativamente simples, usando, prioritariamente, recitativos, enquanto nas árias e ariosos emprega textos poéticos, que comentam os vários eventos da narrativa bíblica.

Dois aspectos distintos da composição de Bach brotam de seus outros esforços eclesiásticos. Um deles é o formato de coro-duplo, que se origina em seus próprios motetos a coro-duplo e os muitos motetos desse tipo, escritos por outros compositores, com os quais ele iniciava rotineiramente os cultos dominicais. O outro é o uso abundante de corais, que aparece na composição padrão a 4 partes, como interpolações em árias, e como um cantus firmus em extensos movimentos polifônicos, notadamente "O Mensch, bewein dein’ Sünde groß," a conclusão do primeiro meio-movimento que essa obra tem em comum com a sua Paixão segundo São João — e o coro inicial, Kommt, ihr Tochter, helft mir Klagen, no qual o soprano in ripieno coroa a colossal edificação da tensão polifônica e harmonica, cantando um verso do coral O Lamm Gottes, unschuldig.

Os manuscritos remanescentes consistem de oito partituras concertate, usadas por oito solistas que também atuavam nos dois coros, umas poucas partes extras, e uma parte para o soprano in ripieno. Ao contrário da Paixão segundo São João, onde existem partes de ripieno dobrando os coros, existe pouca evidência de que se usavam cantores adicionais além dos solistas que cantavam nos coros. A narração dos textos do Evangelho é cantada pelo tenor Evangelista em recitativo secco acompanhado apenas pelo contínuo. Solistas cantam as palavras de vários personagens, mesmo em recitativos; além de Jesus, há partes designadas para Judas, Pedro, Caifás (o sumo sacerdote), Pôncio Pilatos, mulher de Pilatos, e duas ancillae (serventes), embora nem sempre sejam cantadas por diferentes solistas. A esses "personagens" solistas são freqüentemente designadas árias além de cantarem no coro, prática nem sempre seguida pelos intérpretes modernos. Dois duetos são cantados por um par de solistas, representando dois falantes simultâneos, e um grande número de passagens para vários falantes, chamados turba (ou multidão), são cantadas por um dos dois coros. As passagens da turba não são recitativos, mas são música métrica convencional.

Os recitativos cantados por Jesus são particularmente diferentes, pelo fato de serem acompanhados não apenas pelo contínuo, mas por toda a seção de cordas da 1ª orquestra (recitativo accompagnato), usando notas longas e criando um som sustentado chamado freqüentemente de "halo" de Jesus. Apenas as palavras finais Eli, Eli, lama sabactani (Deus meu, Deus meu, por que me desamparaste?), são cantadas sem esse "halo".

Textos:

As árias, compostas sobre os textos de Picander, são intercaladas em seções do texto do Evangelho, e são cantadas pelos solistas com uma variedade de acompanhamentos instrumentais, típicos do gênero oratório.

Os textos interpolados interpretam teológica e pessoalmente os textos do Evangelho. Muitos deles destacam o sofrimento de Cristo, como o coral "Ich bin’s, ich sollte büßen" ("Sou eu quem deveria sofrer"), a ária de contralto "Buß und Reu" (retratando o desejo de ungir Jesus com as próprias lágrimas), e a ária de baixo "Mache dich, mein Herze, rein" (oferecendo-se para sepultar Jesus). Freqüentemente refere-se a Jesus como "meu Jesus." O coro se alterna entre participar da narrativa e comentá-la como um observador externo.

Como é típico de composições sobre a Paixão,não há nenhuma menção à Resurreição em nenhum desses textos. Seguindo os passos de Anselmo de Cantuária, a crucificação em si é o ponto-final e a fonte da redenção; a ênfase é no sofrimento de Jesus. O coro canta, "livra-me dos meus temores / através do teu próprio temor e dor". O baixo, chamando-a de "doce cruz," diz "Sim, de fato esta carne e sangue em nós/ querem ser forçadas à cruz / tanto melhor será para a nossa alma, / quanto mais amarga for sentida". O coral "O Lamm Gottes" compara a crucificação de Jesus com o sacrifício ritual de um cordeiro no Velho Testamento, como uma oferta pelo pecado. Esse tema é reforçado pelo coral final da primeira metade, "O Mensch, bewein dein’ Sünde gross"; ("Ó homem, chora teu grande pecado").

Estilo de composição


Os recitativos de Bach estabelecem, freqüentemente, o espírito de passagens específicas, destacando palavras carregadas de emoção como "crucifiquem", "matem", "chorem", com melodias cromáticas. Acordes de sétima diminuta e modulações inesperadas acompanham as profecias apocalípticas de Jesus.

Nas partes da turba, os dois coros às vezes se alternam no estilo cori spezzati e.g. ("Weissage uns, Christe") e, às vezes, cantam juntos ("Herr, wir haben gedacht"); em outros momentos, apenas um coro canta (o coro I é sempre usado para representar os discípulos) ou alternando, por exemplo, quando "alguns observadores" dizem "Ele está clamando por Elias" e "outros" dizem "Deixa, vejamos se Elias vem salvá-lo."

Nas árias, instrumentos obbligati são parceiros iguais das vozes. Bach usa freqüentemente madrigalismos, como em "Buß und Reu", quando as flautas começam a tocar staccato como gotas de chuva, enquanto o contralto canta sobre gotas de lágrimas caindo. Em "Blute nur", a linha melódica sobre a serpente é composta como uma melodia sinuosa.

A arte quando é autenticamente grande, ultrapassa os limites da razão. É o que acontece com A paixão segundo Mateus.

Poucas vezes pode-se atingir um nível tão alto na arte de todos os tempos. A paixão segundo Mateus é para a música o que o Dom Quixote é para a literatura. Isto quer dizer que estamos diante de uma das partituras mais belas, profunda e geniais de toda a história da música. Tão grande e tão elevada é esta música, que o seu impacto sobre a sensibilidade do homem contemporâneo, dois séculos e meio depois da sua concepção, é ainda significativo.

Somente obras como a Missa em si menor ou a Grande Paixão, com sua quase sobrenatural inspiração, com sua dilacerante e sincera humildade, podem apelar, tão intensamente aos sentimentos mais íntimos e recônditos do ser humano.

Bach escreveu a Paixão segundo Mateus no momento em que sua experiência e criatividade tinham alcançado o seu ponto culminante. Os longos e disciplinados anos de estudo e trabalho aos que se submetera lhe permitiram por em prática os mais variados gêneros musicais de sua época, e lhe proporcionaram as ferramentas necessárias para poder construir um dos maiores monumentos à inspiração humana.



Passion Unseres Herrn Jesu Christi




Nach dem Evangelisten Matthäus
Musik: Johann Sebastian Bach
Text: Christian Friedrich Henrici,
genannt Picander
Ester Teil
Salbung in Bethanien
(Matthäus 26, 1-13)

NR. 1. CHOR, CHORAL
Chor


Kommt, ihr Töchter, helft mir klagen,
Sehet! Wen? Den Bräutigam.
Seht ihn! Wie? Als wie ein Lamm.
Sehet! Was? Seht die Geduld.
Seht! Wohin? Auf unsre Schuld.
Sehet ihn aus Leb und Huld
Holz zum Kreuze selber tragen.

Choral (Soprano “in ripieno”)
O Lamm Gottes unschuldig
Am Stamm des Kreuzes geschlachtet,
Allzeit erfund'n geduldig,
Wiewohl du warest verachtet.
All' Sünd' hast du getragen,
Sonst müßten wir verzagen.
Erbarm' dich unser, o Jesu.

Trdução:

Coro

Venham, filhas; ajudem-me a chorar!
Olhem! (quem?) O noivo.
Olhem-no! (como?) Como um cordeiro.
Olhem! (o quê?) A sua paciência.
Olhem! (para onde?) Para as nossas culpas.
Olhem-no! Por amor e clemência
Ele carrega a madeira da própria cruz.

Coral (Sopranos “in ripieno”)
Ó inocente Cordeiro de Deus,
Sacrificado no talo da cruz,
Sempre paciente;
Apesar de seres desprezado,
Suportaste todos os nossos pecados.
Sem ti teríamos nos desesperado.
Compadece-te de nós, Jesus!

"Johann Sebastian Bach representa o fim de uma época da história da música, o barroco, mas é muito mais do que isso. Bach é a síntese de toda a música que o precedeu e, simultaneamente, a chave para toda a música que se lhe seguiu." Massimo mazzeo


origem: enciclopédia livre - Revista digitasl - oliver.psc.br


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1 comentários:

Anônimo disse...

Muito bom o post.
letra e tradução em espanhol
http://www.kareol.es/obras/cancionesbach/pasionmateo/texto.htm